"Eu queria fazer um livro não da vida como ela é, mas como eu queria que ela fosse. Um livro para a gente pegar e ler quando quisesse esquecer a vida real... Eu entendo a Arte como sendo uma errata da vida. A página tal, onde se lê isto, leia-se aquilo..."

Erico Verissimo, em "Um Lugar ao Sol".

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Minissérie baseada na obra de Érico Veríssimo será gravada em Uruguaiana

O diretor Jayme Monjardim confirmou as  gravações de O Tempo e o Vento – obra baseada na triologia de Erico Veríssimo,  que deve ocorrer em  Pelotas, Uruguaiana, Candiota e Bagé, município escolhido como cidade-sede das gravações.

Em Bagé, será construída a cidade cenográfica – no caso,  Santa Fé idealizada pelo escritor gaúcho. Pelotas, Uruguaiana e Candiota ficarão com as cenas externas do longa. As gravações devem iniciar em dezembro.
Jayme Monjardim esteve reunido hoje à tarde com o governador do Estado, Tarso Genro (PT), e com o secretário do Trabalho e do Desenvolvimento Social, Luis Augusto Lara, no Palácio Piratini, em Porto Alegre.

Sobre a Minissérie

O Tempo e o Vento chegará aos cinemas na metade de 2012 e à televisão, em forma de minissérie, no final do ano que vem. O protagonista será o ator Thiago Lacerda, na pele do Capitão Rodrigo. As duas fases da personagem Ana Terra serão divididas entre Glória Pires e a filha Cleo Pires. Fernanda Montenegro viverá Bibiana. Completam o elenco nomes como José Mayer, Tarcísio Meira, Mateus Solano e José Vitor Castiel.

Fonte: ClicRBS Uruguaiana

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Seminário do Mercosul - Lançado livro "Imaginário Urbano" sobre Erico Verissimo

A professora Maria Cleci Venturini
O XIII Seminário Internacional de Educação do Mercosul realizado na Universidade de Cruz Alta também foi oportunidade para lançamento de livros. Nessa sexta-feira, 10, foi lançada a obra “Imaginário Urbano: espaço de rememoração/comemoração” de autoria da professora da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná, Dra Maria Cleci Venturini.

Segundo a professora o livro “trata de como se constitui a cidade de Cruz Alta no imaginário de Erico Verissimo no livro Solo de Clarineta, já que tem espaços da cidade, da família, etc e também como hoje a cidade é projetada no autor, como por exemplo, nas titulações Erico maior bem cultural, filho dessa terra, filho ilustre...”.

Além da apreciação pelas obras do escritor Erico Veríssimo, consideradas “magníficas”, a pesquisadora já havia trabalhado na cidade no projeto “Resgate da trajetória cultural do filho ilustre de Cruz Alta nos 100 anos de seu nascimento”.

Após uma semana de programação na Universidade de Cruz Alta, o XIII Seminário Internacional de Educação do Mercosul encerrou as atividades na noite dessa sexta-feira, 10. A palestra de encerramento foi sobre "Pesquisa, conhecimento e Interdisciplinaridade" ministrada pela PhD Nancy Cardoso Pereira, Assessora da Secretaria de Educação para Educação do Campo que representou o Secretário de Educação do Estado, Dr José Clovis de Azevedo.

Fonte: Portal Ijui

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Conto: O navio das sombras

É noite escura e o cais está deserto. Ivo ergue a gola do sobretudo. Sente muito frio, e o silêncio enorme e hostil enche-o de um vago medo. Vai viajar. Mas é estranho... Tudo parece diferente do que ele sempre imaginara. O grande transatlântico se desenha sem contornos certos contra o céu de fuligem. Não se vê um só vulto humano no cais. Adivinha-se, entretanto, na treva, a presença rígida e gelada dos guindastes.

Os minutos passam. Ivo olha. Sim, agora vê com mais clareza a silhueta do grande barco. A grande Viagem! O seu sonho vai se realizar. Ficarão para trás todas as suas angústias. É uma libertação. Devia estar alegre, sacudir os braços, correr, gritar. Mas uma opressão estranha o paralisa. Que é isto? Onde estão os outros passageiros? Onde se meteu a tripulação? É inquietante este silêncio noturno. E pavorosa esta sombra glacial que envolve tudo. Ivo quer lançar ao ar uma palavra. Pronuncia bem alto seu próprio nome. O som morre sem eco. O silêncio persiste. Então ele começa a sentir um mal-estar que nem a si mesmo consegue explicar.

Divisa aos poucos, vultos imóveis na amurada do paquete. Parecem guardas petrificados dum barco fantasma. Por que não se movem? Por que não falam? A esta hora a orquestra de bordo devia estar tocando uma marcha festiva. Carregadores gritando. Passageiros, empregados de hotel, agentes da companhia de navegação, guardas — muita gente devia andar pelo cais num formigamento sonoro. No entanto reina o mais espesso silêncio... Ivo dá dois passos e é tomado duma esquisita sensação de leveza. Caminha sem o menor esforço. E como se não encontrasse nenhuma resistência no ar, como se suas pernas fossem de algodão.

Mete a mão no bolso. Sim, ali está a sua passagem. Fica mais tranquilo e encorajado. Pode embarcar. Deve embarcar... Seria decepcionante perder o navio...

Dirige-se para a prancha. Hesita um instante antes de partir, porque a seus ouvidos soa, muito fraca, muito abafada, uma voz amiga.

— Ivo, Ivo querido, não me abandones! 

Inexplicável. De onde veio a voz? Volta a cabeça para os lados, procurando. Só encontra a escuridão fria e inimiga, O navio apita. Um som soturno, grave e prolongado, enche a grande noite. É uma queixa, quase um choro e, apesar disso, tem um certo tom de ameaça. Nesse apito rouco Ivo sente o pavor do oceano desconhecido na noite negra, a angústia dos navios perdidos a pedirem socorro, a aflição dos náufragos, o horror das profundezas do mar. O apito uivante e áspero parece feito dos gritos de todos os afogados, de todos os mares.

Ivo sente-se desfalecer de medo.

— Meu Ivo, por que foi? Por que foi?

Outra vez a voz. Ivo estremece. De onde vem aquela voz? Na amurada, os
vultos continuam imóveis. Nenhum deles podia ter falado assim com aquela
ternura longínqua. Porque eles devem ter uma voz cavernosa de pedra.

Parado ao pé da prancha, Ivo olha para o alto. Vê um homem na extremidade superior da escada. Está de pernas abertas, braços cruzados, olhando para baixo. Ivo não lhe pode distinguir as feições. Mas é curioso, ele sente a força de dois olhos magnéticos que o fitam. E aquele olhar é um chamado, uma ordem.

Começa a subir. Lembra-se de um trecho de antologia da sua infância. André Chenier subindo as escadas do cadafalso. Sim, ele sente que vai ser guilhotinado. Lá em cima está o carrasco. Ou será apenas o capitão? Ivo sobe. Um, dois, três, quatro degraus ... O frio aumenta, Ivo começa a tiritar. Cinco, seis, sete. Sente uma fraqueza, uma tontura. Subiu apenas sete degraus, mas agora o cais está tão longe de seus pés, que ele tem a sensação de se encontrar no alto duma torre altíssima. O vento sopra gelado como a face dum morto. Mas por que lhe vêm com tanta insistência esses pensamentos macabros? 

Esta não é então a Viagem, a sua desejada aventura transoceânica? Deve então alegrar-se, cantar . . . Procura assobiar uma ária alegre. Mas o vento lhe impõe silêncio. Ivo sobe sempre . . . Quando senta o pé no navio, não vê mais o capitão. Volta os olhos e só enxerga a noite, a grande noite, a densa noite.

Por que não acendem as luzes deste navio? Senhores, as luzes! Outros vultos passam. Mulheres, homens, crianças. É aflitivo. Ivo não lhes pode ver os rostos. E o silêncio apavorante!...

Ivo se aproxima dum homem que se acha encostado à amurada.

— Por favor, meu amigo, pode me dizer se este vapor é o...

Cala-se. É assustador. Ele não sabe o nome do barco em que entrou. Como foi isso? Não se trata então duma viagem, da "sua" desejada viagem, por tanto tempo planejada e acariciada? Por que tudo agora está tão esfumado e confuso, como se sobre sua memória tivesse caído um véu? Ivo começa a suar. O suor lhe escorre pelo rosto em bagas frias.

- Pode me dizer onde fica o bar?

Sim, precisa tomar uma bebida qualquer. Deve ser o frio que o deixa assim tão sem memória, tão fraco e trêmulo.

— Cavalheiro, pode me dizer onde fica o sol?

O sol? Mas ele não queria perguntar onde ficava o sol. Jurava que ia perguntar onde ficava o bar.

— Por favor, cavalheiro...

O vulto se move sem o menor ruído e some-se na sombra.

Ivo treme dos pés à cabeça. "Preciso encontrar o meu camarote" diz para si mesmo — "preciso descobrir a minha bagagem" — pensa, numa crescente aflição. — "Deve existir alguém a bordo que possa me explicar. Talvez um doutor... Sim. Estou doente..."

E agora ele tem consciência duma dor, não aguda mas continuada e martelante, bem no lado esquerdo do peito. Leva a mão ao coração. Retira-a úmida. Será sangue ? Sim, deve ser...

Sai a correr apavorado. Um médico! Um médico! Estou ferido, vou morrer,

Ivo procura orientar-se na escuridão. Parece-lhe agora enxergar contornos mais nítidos. Sim. Ali está uma porta. Um corredor. Se ele entrar no corredor talvez ache o seu camarote. Tem agora vagamente a lembrança dum número. 27... 27... Recorda-se de tê-lo visto impresso em algarismos negros sobre um quadro branco. 27... Onde?

De repente tem a impressão de que na memória se lhe abre uma clareira por onde ele enxerga o passado. Mas é apenas um relâmpago. De novo cai a névoa. Já não lhe dói mais o peito. Tudo deve ter sido ilusão ... ele não está ferido. As sombras passam. A bruma que vem do mar invade o navio. Onde estará o capitão? O frio e o silêncio persistem. O barco misterioso torna a soltar um gemido rouco e prolongado. Mas - é incrível, incompreensível, endoidecedor — nem o apito consegue quebrar o silêncio.

Ivo caminha sem destino. Não ouve o ruído dos próprios passos. Não tropeça em nada. Aproxima-se da amurada e olha o mar. Só vê a escuridão velada duma bruma de cor doentia.

Um homem se aproxima dele. Ivo olha-lhe o rosto... Já se lhe distinguem alguns traços. Decerto o hábito da escuridão. Céus, mas que rosto pálido! Parece a cara dum cadáver. A pele está ressequida e tem um tom esverdeado. Os olhos, parados e sem brilho. Os dentes arreganhados...

Agora aparecem outras faces. Uma criança sorrindo um sorriso horrendo. Uma mulher com os olhos furados escorrendo sangue. Um velho com a boca queimada de ácido. Ivo solta um grito... Mas o silêncio continua. Onde estarei? — pensa ele. — Onde estarei? Faz um esforço dolorido para se lembrar.

Quem sou eu? Como foi que vim parar aqui? Onde estão os meus amigos, as pessoas que eu via todos os dias?

O frio aumenta. Ivo sente-se desfalecer. Tem a impressão de estar boiando
nas ondas dum mar gelado, como um náufrago; como um iceberg...

- Camarote 27! — diz Ivo, - 27... 27... — Seus lábios se movem, mas nenhum som perturba o silêncio do grande barco e da enorme noite.

De repente uma onda morna lhe invade o corpo. Pela proa do navio começa a nascer uma luz, pálida a princípio, mas a pouco e pouco se fazendo mais viva e dourada. Os olhos de Ivo se agrandam. Aquela luminosidade vai ser a explicação de tudo, a volta da memória... Sim, ele vai descer pela prancha e ganhar o cais. 

O cais também é negro e silencioso. Mas não há nada como a terra firme. Ele não quer viajar neste vapor tenebroso cujos passageiros são fantasmas. O mar desconhecido é um pavor na noite. Oh Deus! - pensa Ivo - como foi que eu cheguei a desejar esta viagem!? Que louco! Que louco! A luz cresce. O calor aumenta. A voz amiga se ouve mais forte: "Ivo, meu querido, fica comigo!" Sim, ele quer ficar. É preciso fugir do capitão do barco noturno. Ivo dá dois passos para a luz.

Ajoelhada ao pé da cama a moça aperta e beija a mão pálida do rapaz.

— Ivo, não quero que morras, não quero. Por que foi que fizeste isso? Por que foi?

Com a seringa de injeção numa das mãos, o médico contempla o rosto pálido do suicida. Pobre diabo! Perdeu tanto sangue... O corpo está quase frio.

A um canto do quarto, a dona da casa, torcendo o avental, olha muito assustada para a cama. "Por causa do que me devia, ele não precisava fazer isso. Eu podia espe­rar. Não tinha importância. Deus me perdoe. Se eu soubes­se, não tinha vindo hoje trazer a conta. Logo hoje, Nos­sa Senhora!"

Ao pé da janela, o porteiro da casa conversa com um agente de polícia.

— De onde era ele?

— Do interior.

— Tinha família?

O porteiro encolhe os ombros.

— Era um moço muito calmo, muito delicado. An­dava sem emprego. Eu dizia para ele que tivesse paciência. Mas qual! Não aguentou... Há gente nervosa.

Falam já de Ivo como quem fala dum morto. O médico aproxima-se do grupo.

— Fiz uma tentativa desesperada. Injetei-lhe adrena­lina no coração. — Sacode a cabeça. — Não tenho muita esperança. Enfim... acontecem milagres...

Ao ouvir a palavra milagre a velha começa a rezar.

De repente a moça se ergue, como que impelida por uma mola.

— Doutor! Ele está se mexendo... venha! Venha! Os três homens se aproximam da cama. O rosto de Ivo se move, seus olhos se entreabrem. Há um breve instante de aflitiva esperança. Ivo como que se baloiça, indeciso, por sobre as tênues fronteiras que separam a vida da morte.Mas parece haver do outro lado um chamado mais forte. O corpo se imobiliza.

O doutor inclina-se e ausculta-lhe o coração. Olha para a moça e diz, baixinho:

— Sinto muito. Mas não há mais nada a fazer. A dona da casa desata a chorar. Com o rosto contraído numa expressão mais de estupefação que de dor, a rapariga olha do médico para o morto, do morto para a folhinha da parede, onde o número 27 em letras negras se destaca sobre o quadrado branco. Iam contratar casamento, hoje, hoje...


O transatlântico vai partir. O transatlântico apita. É um gemido rouco, longo, doloroso, desesperado, irremediável. Debruçado à amurada, Ivo olha o vácuo. Agora é uma sombra resignada entre as outras sombras. O vento do grande mar desconhecido varre o barco dos suicidas. E todos eles ali vão em silêncio, enquanto na ponte o fantástico Capitão olha com seus olhos vazios a noite insondável.

Texto extraído do livro "Contos" (série paradidática), Ed. Globo - Porto Alegre - 1978, pág. 13.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Pela humanidade literária

Ótimo artigo sobre humanidade literária no blog Lendo.org. O André, dono do blog, também citou o livro Solo de Clarineta.


O artigo fala sobre como o homem se tornou um escravo robótico da sociedade, e de como a Literatura é um encontro, no qual descobrimos nossa própria identidade.

André cita que dos vários gêneros literários que realizamos nosso processo de identificação, nenhum é tão intenso como o autobiográfico. A partir desse informação, o professor fez um rico comentário sobre o livro Solo de Clarineta.


Não deixem de conferir!

Thiago Lacerda fará papel de Tarcísio Meira no longa O Tempo e o Vento

  Divulgação/TV Globo

 
Thiago Lacerda falou a respeito de seu próximo trabalho na televisão à repórter Laura Wie, do Programa Amaury Jr., que foi ao ar na noite da última terça-feira (7), na RedeTV!. O ator conta que interpretará o personagem Capitão Rodrigo, no remake de O Tempo e o Vento, longa que já está em pré-produção, com texto de Erico Veríssimo e direção de Jayme Monjardim.

O ator contou que chegou a conversar com Tarcísio Meira, que fez o mesmo papel há 20 anos na televisão e recebeu seu apoio. “Você vai fazer muito bem o Capitão Rodrigo, tem tudo pra isso”, disse Tarcísio, o que deixou Thiago mais tranquilo para o trabalho. 
Tarcísio Meira como o Capitão Rodrigo Cambará

Fernanda Montenegro também está no elenco e vive a personagem Bibiana. O filme O Tempo e O Vento será produzido de modo a ser exibido pela Globo, mais tarde, em formato de minissérie, tal qual Chico Xavier.


Fonte: Site Contigo e Estadão

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Personagens de Erico: Amaro (Clarissa, Música ao Longe e Um Lugar ao Sol)

Representa o lado obscuro e amargo da vida. Em Clarissa, Amaro é um músico frustrado, já à beira dos quarenta anos, que contempla na vitalidade física e espiritual de Clarissa (que tem apenas 14 anos) tudo aquilo que a vida lhe negou. Amaro ama Clarissa à sua maneira, transferindo para ela a imagem da mulher que sempre idealizara e sabe que nunca chegará a possuir. Ao opor entre si as personagens de Clarissa e Amaro, como se tratasse de dois pólos da existência, a luz e a sombra, o passado e o futuro, este romance permite vislumbrar uma preocupação que é alimentada por Erico Verissimo em livros posteriores.

domingo, 5 de junho de 2011

Erico Verissimo por Deonisio da Silva


Erico Verissimo morreu em 1975. Tinha chegado à idade bíblica dos setenta e morreu cedo, mesmo para os padrões de expectativa de vida há trinta anos! Seu último romance foi Incidente em Antares (1971), que frequentou muitas vezes as listas dos mais vendidos naquela década. 

Quase 500 páginas, dependendo da edição, pois teve quase uma centena de relançamentos, é dividido em duas partes, a segunda um pouco mais longa do que a primeira, em que faz uma genealogia do poder das oligarquias rurais no Brasil, utilizando como quadro de referência o Rio Grande do Sul e como cenário preferencial dos eventos realistas e fantásticos a localidade de Antares. 

Erico adorava ser simples até mesmo na carpintaria de seus romances. Dá às duas partes os nomes óbvios: a primeira, Antares; a segunda, Incidente

O incidente, porém, quando chega a ocorrer vem como apanágio de um processo cujas tramas foram muito bem explicadas nas quase duzentas páginas que o prepararam. 

Na segunda parte, ganha relevo a figura do jornalista Lucas Faia, que em prosa barroca, ainda forte nas centenas de jornais do interior, narra a ressurreição de um pequeno grupo de mortos notáveis que caminha para o centro de Antares, onde revelarão os podres de altas figuras do poder local, alguns dos quais com poder de vida e de morte sobre os munícipes, mas que nada mais podem fazer contra quem já morreu!

Eis amostra do estilo do jornalista:

"Foi na última sexta-feira 13 deste cálido e, já agora, trágico dezembro. (...) A brônzea voz do sino da nossa Matriz chamava os fiéis para a missa das sete quando os sete mortos, em sinistra formatura, desceram sobre a cidade, ao longo da popular Rua Voluntários da Pátria, semeando o susto, o pavor, o pânico. (...) Uma senhora grávida, cujo nome a ética nos obriga a omitir, ao ver de sua janela a passagem dos sete defuntos ficou tão apavorada, que deu prematuramente à luz o seu bebê. (...) Com lágrimas a rolarem pelas faces alguns homens e mulheres, velhos inimigos, reconciliavam-se, esqueciam velhos e novos agravos, abraçavam-se, beijavam-se, enfim, faziam as pazes cristãmente. (...) Muitas pessoas encaminhavam-se para o confessionário, onde a presença do Pe. Gerôncio foi exigida, primeiro com calma e depois aos gritos".
Era assim que Erico escrevia. Era assim que todos o entendiam. Ele tinha uma história para contar e sabia como fazê-lo. Os leitores queriam uma história para ler e a encontravam nos livros de Erico. 

Fonte: Site Observatório da Imprensa